O Levante Militar
Na secretaria, o Visconde de Ouro Preto soube que o motivo — ou melhor, o pretexto — para o levantamento do 1º Regimento de Cavalaria era a alegada prisão do marechal Deodoro e a denúncia de que ele seria atacado pela chamada guarda negra. Apurando os fatos, verificou-se que o conselheiro Basson já havia comunicado os demais ministros, o presidente da província do Rio de Janeiro — para que mantivesse a força policial em prontidão — e o comandante do corpo de polícia da corte, ordenando que este colocasse imediatamente sua tropa em armas. O Visconde de Ouro Preto solicitou com urgência a presença do ajudante-general do Exército e do comandante do corpo de bombeiros, que se apresentaram pouco depois.
O marechal Floriano Peixoto confirmou as informações e acrescentou que havia sido informado por ordem do tenente-coronel Silva Teles, por meio do capitão Godolfim, de que o 1º Regimento de Cavalaria e toda a 2ª Brigada estavam armados. Floriano dissera ao comandante interino da brigada que recomendasse prudência aos oficiais e os mantivesse aquartelados, dirigindo-se em seguida ao quartel-general do Exército. Ele explicou que, por esse motivo, não lhe procurara naquela noite como ordenara o ministro da Guerra. Ouro Preto pergunta se o capitão Godolfim fora preso, já que se apresentar em nome de uma força sublevada e armar-se sem ordem superior configurava grave crime militar.
O marechal respondeu que não prendera o capitão para ganhar tempo e evitar que a tropa se movimentasse antes que os meios de contê-la estivessem preparados. Informou ainda que ordenara à 1ª Brigada que depusesse as armas e aguardasse ordens. O Visconde argumenta que o simples fato de se armarem sem autorização superior já constituía crime, sendo necessário prender os oficiais e soldados envolvidos, distribuí-los pelas fortalezas e instaurar imediatamente rigorosa sindicância para apurar os fatos e punir os culpados. Ordenou que assim fosse feito, com o que concordou o marechal Floriano.
O Visconde de Ouro Preto indaga se já havia tropas suficientes para executar as ordens. Lhe é respondido que talvez precisasse de reforços, pois suspeitava-se que parte da 1ª Brigada (sob o comando do barão do Rio Apa) simpatizava com os amotinados, confiando apenas no 10º Batalhão de Infantaria. Então é pedido o envio do 24º Batalhão, aquartelado na ilha do Bom Jesus, e do 4º de Artilharia, em Santa Cruz. O ajudante-general insistiu particularmente pela artilharia, pois nenhuma força dessa arma estava disponível no momento. O Visconde tranquiliza dizendo que expediria as ordens de imediato, que ele poderia contar com o corpo de polícia da corte e dos bombeiros, além da polícia do Rio de Janeiro e forças da Marinha.
Floriano observou que a presença da Marinha teria forte impacto moral, pois os amotinados espalhavam que ela os apoiaria, iludindo muitos. Pediu também a preparação de transportes para buscar o 4º Batalhão de Artilharia e que fosse ocupada a ilha do Boqueirão por tropas da província, devido ao seu importante depósito de guerra. O coronel Neiva, comandante dos bombeiros, se apresentou e, embora afirmasse não possuir espingardas, foi informado por Floriano que poderia recebê-las no quartel-general. Neiva se colocou à disposição. Manda o Visconde de Ouro Preto, o coronel Gentil a Niterói para solicitar o envio da força policial e a guarnição da ilha do Boqueirão. O chefe de polícia foi instruído a reunir os ministros no Arsenal de Marinha, para onde se dirige o Ministro.
Em cerca de 15 minutos, Ouro Preto é anunciado no Arsenal: despertaram o porteiro, chamaram o inspetor Foster Vidal e foi recebido. Enquanto isso, redige ordens e telegramas. Um deles, dirigido ao diretor do Arsenal de Guerra, solicitava avisar o ministro da Guerra de sua presença no Arsenal de Marinha e preparar o embarque do 4º Batalhão de Artilharia. Outro telegrama foi enviado ao imperador, informando que os regimentos de Cavalaria e o 2º Batalhão de Artilharia haviam se armado com o pretexto de proteger Deodoro, e que o governo tomava medidas para restaurar a ordem. Relata-se que esse primeiro telegrama não chegou ao imperador — apenas o segundo, sobre a renúncia do ministério — mas o Primeiro-Ministro não buscou confirmar.
Ordena ao inspetor Foster Vidal que preparasse todos os meios de transporte do Arsenal de Marinha, requisitando também o Batalhão Naval, o Corpo de Imperiais Marinheiros e destacamentos dos navios disponíveis. Essas ordens foram executadas de imediato. Em seguida, chegaram o coronel Pego, que partiu para Santa Cruz, e o coronel Fausto, do Arsenal de Guerra, que foi instruído a colocar o Arsenal em posição defensiva e repelir possíveis ataques. Ele o alerta sobre a importância estratégica do morro do Castelo, que deveria ser ocupado por tropas fiéis ao governo. Responde-lhe o Visconde que providenciaria isso e autoriza a dispensar os menores do Arsenal com famílias, cuidando da segurança dos demais.
Todas as instruções foram compartilhadas com os ministros da Justiça e da Marinha. Mais tarde, chega o da Guerra. O barão do Ladário, ministro da Marinha, agiu com a prontidão que lhe era característica, tomando providências adicionais para a defesa do Arsenal e acelerando as medidas já em andamento. Informado do que fora feito, o ministro da Guerra sugeriu que Ouro Preto o acompanhasse ao quartel-general, seu posto, mas o Ministro - o Visconde - opina que seria mais útil permanecer no Arsenal, de onde poderia agir conforme a situação exigisse. O ministro da guerra insistiu que a presença do Primeiro-Ministro seria um incentivo à resistência. Responde-lhe que o acompanharia assim que a defesa estivesse assegurada e o primeiro contingente da Marinha partisse.
Comentários
Postar um comentário